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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Festejos da Pedra do Reino encerram FPNC em São José do Belmonte






Cavalhada e cavalgada comemoraram os 40 anos do romance A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna


Cavalhada em Belmonte
O sol escaldante do sertão nem de longe espanta os cavaleiros mascarados, que percorrem a pequena e bela São José do Belmonte, a partir do meio dia de 28 de maio de 2011. São garotos montados em seus cavalos que convocam a população para dois grandes acontecimentos na cidade: a Cavalhada, do sábado e a Cavalgada à Pedra do Reino, no domingo, organizados pela Associação Cultural da Pedra do Reino. O primeiro representa o “confronto” entre cristãos e mouros, que remete à batalha de 1578, no Marrocos, continente africano, quando Dom Sebastião, então rei de Portugal, tombou sem vida.

Mas o que Belmonte, encravada no sertão central pernambucano, tem a ver com tudo isso? Tudo!
Foi ali, em plena Serra do Catolé, a 26 quilômetros da cidade, que um grupo de fanáticos resolveu fundar uma espécie de reino, onde as leis e costumes eram diferentes de todo o Brasil, e criaram a expectativa de que o rei iria desencantar e voltar ao mundo dos mortais. A Seita Sebastianista teve muitos seguidores , tanto em Portugal quanto no Brasil, entre 1836 e 1838, até que um dos seus 3 “reis”, o João Ferreira, entendeu que dom Sebastião só voltaria se houvesse um grande derramamento de sangue, exatamente na Pedra do Reino, local escolhido para o sacrifício. As pessoas foram mortas a golpes de facão. O massacre virou tema do romance de Ariano Suassuna, A Pedra do Reino, que introduziu novos personagens à cena. É justamente essa visão romanceada do sangrento episódio que os belmontenses cultuam e reverenciam, e cujas festividades foram incorporadas à programação do Festival Pernambuco Nação Cultural, Sertão Central.

Faceiro e cheio de “mungangas”, o personagem Quaderna, sai das páginas do romance para comandar a Cavalhada Zeca Miron, que ha 16 anos vem sendo realizada na cidade. Renato Magalhães, pinta o rosto de branco, nariz vermelho de palhaço, coloca roupas de vaqueiro, empunha sua espada em cima do cavalo, para dar vida à Quaderna e a cavalhada. Para participar da simulação da luta entre mouros e cristãos, os pares de cavaleiros vestem azul e encarnado, as mesmas cores do pastoril, e disputam a rainha da festa e de quebra toda sua corte, nem o rei escapa. O desafio dos cavaleiros consiste em acertar com uma lança a argola que está pendurada nos arcos de ferro. Quem pegar mais, ganha! Valem a pontaria, a destreza e o entrosamento entre os 12 pares de França (cavaleiros e cavalos), para conquistar os “prêmios”. As cenas parecem de filmes da idade média e o público do Carvalhão, local da evento, se transforma em torcida do azul e do encarnado. “Todo ano estou aqui, e cada ano é mais lindo, com o desfile dos cavaleiros com as bandeiras pela cidade. Tudo isso é muito bom para Belmonte”, relata dona Maria Generosa da Conceição, de 74 anos.

Lá no campo, os cristãos sebastianistas, representados pela cor azul, vencem os mouro encarnados, mas quem rouba a cena é o Quaderna. Em meio aos cavalos e cavaleiros, damas, reis e rainha, ele leva o público ao delírio, correndo de um lado para o outro, mexendo com as crianças, interagindo com sua espada, cumprimentando os concorrentes. Um personagem tipicamente nordestino, tipicamente Ariano Suassuna.

A Cavalgada à Pedra do Reino

Os fogos cortam o céu antes mesmo dos primeiros raios do sol do último domingo de maio na cidade. A Orquestra Filarmônica de São José do Belmonte já está na rua acordando os moradores para a missa que antecede a saída da 19o. Cavalgada à Pedra do Reino. E eles vão chegando em seus cavalos, recebem as bênçãos em frente à igreja de São José e partem para o percurso de 26 quilômetros até a Pedra do Reino. No caminho cheio de obstáculos e da bela paisagem, outros cavaleiros e damas engrossam o cortejo até a primeira parada do grupo para o café da manhã reforçado, ao som da sanfona, triângulo e zabumba do forró pé-de-serra. Barriga cheia, mão lavada, pé na estrada de novo, até a próxima parada para o churrasco e sorteios entre os participantes, promovidos pela Associação da Pedra do Reino, uma organização com 40 membros, pessoas abnegadas que se dedicam o ano inteiro a fortalecer e preservar a história de São José do Belmonte e a continuidade dessa festa.

Quando a Cavalgada chega à Pedra do Reino, os mais de 400 participantes são recebidos com carinho pelo público que se concentra desde cedo à espera desse momento. O casal real, os mouros e cristãos, cavaleiros e damas com suas bandeiras, descem dos cavalos e se misturam à multidão para festejarem juntos os 40 anos do romance da Pedra do Reino, obra que resgatou a história do episódio e inspirou o evento. É o diálogo entre o presente e o passado, a universalidade do movimento armorial de Ariano Suassuna. “Sou filho de Belmonte, hoje moro fora daqui, mas não perco essa cavalgada por nada. Só me caso com uma mulher um dia, que possa entender a minha relação com esse lugar”, afirma Dicianno Menezes, de 21 anos, estudante de farmácia da UFPE, que mora em Petrolina. Esse depoimento reflete o que a Cavalgada à Pedra do Reino representa para os belmontenses, de todas as gerações.

Texto: Cirlene Leite
Retirado do site da FUNDARPE

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